Pelo Pe. Tomás Ravaioli, IVE

Todos os anos, mais ou menos duas semanas antes da Semana Santa, se organiza uma Via Sacra com todos os jovens deste lugar. Este ano fomos nós que a organizamos e decidimos fazer saindo de Waromo (uma das cinco vilas em que trabalhamos) até Dasi (a paróquia de um sacerdote amigo). No total uns 15km caminhando, que fizemos em quase quatro horas, caminhando devagar e parando para meditar em cada uma das 14 estações.

O mais surpreendente este ano foi a quantidade de pessoas: cerca de 5 mil. Como não sou bom para calcular, vendo as fotos vocês poderão ver se acertei no número. De qualquer forma, estou certo que as fotos não refletem bem a quantidade de gente que havia, já que em alguns momentos aproveitei para caminhar no meio da fila, então o início e o final da procissão se perdiam de mim, rumo ao horizonte.

E, mais uma vez, a pergunta que nos fazemos: Por que tanta gente? De onde saíram? O que vieram ver? Acredito conhecer bastante este povo, e posso assegurar que ninguém, absolutamente ninguém convoca tanta gente como este tipo de atividade religiosa. E também estou convencido de que nenhum dos que participaram da Via Sacra estariam dispostos a caminhar durante quatro horas para ver alguma grande personalidade ou estrela do cinema. Além disso, não eram só jovens, mas muitas crianças, adultos e até idosos, inclusive gente doente. E aqui em Papua, ainda por cima, se caminha descalço…

Então fazemos mais uma vez a pergunta: Por que cerca de 5 mil pessoas decidiram caminhar descalças durante quatro horas, ainda que, muitos deles, doentes? Porque sabiam que com esse sacrifício estavam “devolvendo” um pouco do sacrifício (peço perdão pela pouca precisão teológica) que Outro havia feito por eles há quase dois mil anos. E sabem que o que eles podem fazer, sempre será pouco para devolver tamanho favor feito no Gólgota, mas sabem que pelo menos é algo. Algo parecido ao que aconteceu há dois mil anos, quando diante de mais de cinco mil pessoas famintas, um jovem se aproximou do apóstolo André para entregá-lo os poucos pães e peixes que tinha, como se dissesse: “Não posso alimentar milhares de pessoas. Posso dar muito pouco, mas te dou tudo o que tenho. Ao menos é algo, não? Depois pediu a Jesus que, com esse pouco conseguisse alimentar tanta gente…”. E Nosso Senhor conseguiu. E bem. Muito bem. Inclusive sobrou.

Em definitiva, trata-se disso. Não estamos em condições de devolver o favor que recebemos com a morte de Cristo, mas sim estamos em condições – e todos, sem exceção – de devolver ao menos um pouco, na medida de nossas possibilidades. E esse pouco, que talvez nos pareça muito pouco, pode fazer grandes coisas nas mãos de Jesus. Pelo menos aconteceu assim uma vez, com um jovem que Lhe entregou quase nada e graças a ele, mais de 5 mil pessoas comeram até saciar-se. E, se aconteceu uma vez, por que não pode voltar a acontecer?

Pe. Tomás Ravaioli, IVE.