A formação intelectual tem por objeto o estudo da verdade, sua interiorização e encarnação. Seu fim primário é a busca e conquista da mesma. Supõe, pois, como ponto de partida o amor pela verdade, porque o amor é o motor de todas as coisas. O fruto do amor à verdade é a aquisição da mesma: a contemplação, que consiste na conquista e o repouso na verdade amada. Insere-se plenamente no carisma de nossa Família Religiosa que quer viver em plenitude o mistério da Encarnação do Verbo[1], daquele que disse Eu sou a verdade (Jo 14,6), e pelo qual o Magistério pode falar “da verdade que é Cristo”[2].

“Todos os homens desejam naturalmente conhecer”[3]. O conhecimento é um desejo natural, próprio da natureza racional do homem.

“A busca da verdade é uma exigência da natureza do homem, enquanto que a ignorância o mantém em uma condição de escravidão. Com efeito, o homem não pode ser verdadeiramente livre se não receber uma luz sobre as questões centrais de sua existência e em particular sobre aquela de saber de onde vem e para onde vai”[4]. Se a busca da verdade obriga a todo homem, com mais razão obriga a nossos membros, e em particular aos dedicados a transmissão da mesma: “Os religiosos dedicados à docência procurarão imbuir-se no amor absoluto e total à verdade”[5].

Lectio Brevis

“Procurar a verdade, descobri-la e alegrar-se de havê-la encontrado, dizia João Pablo II, é uma das aventuras mais emocionantes da vida”[6].

A dedicação (studium) à sabedoria é a mais sublime das empresas humanas. A este respeito, afirma Santo Tomás: “O estudo da sabedoria tem o insigne privilégio de que quanto mais um se entrega à mesma, tanto mais nos deixa sentir sua suficiência”[7]. E, comentando as palavras do Eclesiástico 32,15, compara a busca da sabedoria com o jogo: “Com razão se compara a contemplação com o jogo… Em primeiro lugar, porque o jogo é prazeroso, e a contemplação da sabedoria contém um deleite máximo; por isso diz o Eclesiástico 24,27, falando da sabedoria: meu espírito é mais doce que o mel. Em segundo lugar, porque as operações do jogo são procuradas em si mesmos prescindindo de outra finalidade, o qual convém também aos deleites da sabedoria”[8].

E na Summa Contra Gentiles, o mesmo Aquinate escreve que “o estudo da sabedoria é o mais perfeito, sublime, proveitoso e alegre de todos os estudos humanos… Mais perfeito, pois o homem, na medida em que se dá ao estudo da sabedoria, possui já de alguma forma a verdadeira bem-aventurança… Mais sublime, pois por ele o homem se assemelha a Deus, que tudo o fez sabiamente (Sl 103,24) e como a semelhança é causa do amor, o estudo da sabedoria une especialmente a Deus por amizade… Mais útil, pois é o caminho para chegar ao reino da imortalidade… e mais alegre, pois não é amarga sua conversação nem dolorosa sua convivência, a senão alegria e gozo (Sab 8,16)”[9].


[1] Cf. Constituições do Instituto Verbo Encarnado, 20.
[2] Cf. Declaração Dignitatis Humanae sobre a liberdade religiosa, 14.
[3] I Metaphysicorum 1,1; cf. Santo Tomás, In I Metaphysicorum lect. 2.
[4] Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, Donum Veritatis, sobre a vocação eclesial do teólogo, nº 1.
[5] Constituições do Instituto Verbo Encarnado, 178.
[6] João Paulo II, Discurso aos jovens em Kampala, OR (19/02/1993), 6 nº 4.
[7] Santo Tomás de Aquino, Exposição sobre las semanas de Boécio, Prólogo.
[8] Ibidem.
[9] Santo Tomás de Aquino, Suma contra os gentios, I,2.