O fim sobrenatural do homem corresponde, uma vez que transcende, a seu fim natural. Por isso todos os desejos do homem não serão consumidos, senão consumados na visão beatífica[1]. No período de formação esta correspondência e transcendência devem ser consideradas. Ensina o Papa Pio XI que “a educação cristã compreende todo o âmbito da vida humana… para elevá-la, regulá-la e aperfeiçoá-la segundo o exemplo e a doutrina de Cristo”[2].

Formação Espiritual

A vida espiritual deve entender-se “como relação e comunhão com Deus”[3]. “A formação espiritual… deve dar-se de tal forma que os alunos aprendam a viver em trato familiar e assíduo com o Pai por seu Filho Jesus Cristo no Espírito Santo”[4]. É, portanto, uma forma de amizade: já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz seu Senhor. Mas vos chamo amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de meu Pai (Jo 15,15). Esta amizade tem as características de uma verdadeira busca[5]: o sacerdote deve ser um faminto insaciável de Deus. Sem opor nunca “a busca da verdade e a certeza de conhecer já a fonte dessa verdade”[6]. Esta busca pode dar-se porque de algum modo já o encontramos, mas devemos fazer cada vez mais íntima esta revelação. Para este encontro há uma triplice via[7]: a meditação da Palavra de Deus, a participação nos Sagrados Mistérios e a caridade fraterna, especialmente com os mais necessitados.

Nesta perspectiva da caridade, “que consiste no dom de si mesmo por amor, encontra seu lugar na formação espiritual do futuro sacerdote, a educação da obediência, do celibato e da pobreza”[8]. “Entendam com toda claridade os alunos que seu destino não é o mandar nem as honras, senão a entrega total ao serviço de Deus e ao ministério pastoral. Com singular cuidado sejam educados na obediência sacerdotal, no teor de vida pobre e no espírito da própria abnegação, de sorte que se habituem a renunciar com prontidão às coisas que, até ainda sendo lícitas, não convêm, e a assemelhar-se a Cristo crucificado”[9].

Jesus Cristo, Filho de Deus e da Santíssima Virgem, deve ser o centro de toda vida espiritual: Ninguém vai ao Pai senão por Mim (Jo 14,6). No templo, no claustro, na cela, no refeitório, nos recreios, hão de andar gemendo por Jesus Cristo. O canto e o riso dos membros de nossa família religiosa tem que ser chorar por Jesus Cristo. Este é seu ofício. Quanto mais doce a melodia cantem no coro, melhor manifestarão o profundo e interior suspiro de suas almas gemendo por Jesus Cristo. A memória e a recordação Dele nunca devem apartar-se de seus corações. Com isso deve vir o sono e assim devem sonhar dormindo. O coração sempre derretido em seu amor e a memória não ocupada em outra coisa senão Nele[10].


[1] Cf. SANTO TOMÁS DE AQUINO, Suma contra os gentios, III, 63.
[2] PIO XI, Encíclica sobre a educação cristã Divini illius Magistri (1929), 102.
[3] Exortação apostólica pós-sinodal sobre a formação dos sacerdotes na situação atual Pastores dabo vobis, 25 de março de 1992, 45.
[4] Decreto sobre a formação sacerdotal Optatam totius, 1965, 8.
[5] Cf. Pastores Dabo Vobis, 46.
[6] João Paulo II, Discurso aos professores e alunos do Instituto Católico (01/06/1980), 4; L’Osservatore romano (08/06/1980), p. 10.
[7] Cf. Optatam totius, 8; Pastores dabo vobis, 46 ss.
[8] Ibidem.
[9] Optatam totius, 9.
[10] Cf. SÃO JOÃO DE ÁVILA, Prática às Irmãs de Santa Clara de Montilha, op. Cit. T. III.p. 465.