Seguindo o exemplo do Verbo Encarnado, os membros do Instituto se entregam a Deus totalmente pelo voto de obediência, mediante o qual o religioso faz dom de sua vontade.

Aprendeu por seus padecimentos o que é a obediência (Hb 5,8). “Diz aprendeu o que é a obediência, isto é, quão grave é obedecer, porque Ele mesmo obedeceu nas coisas mais graves e mais difíceis: até a morte de cruz[1]. E assim mostra quão difícil é o bem da obediência. Porque os que não são vigilantes na obediência, e não a aprenderam nas coisas mais difíceis, acreditam que obedecer é muito fácil. Mas para que saibas o que é a obediência, é necessário que aprenda a obedecer nas coisas mais difíceis, e o que não aprende obedecer estando submetido, jamais saberá mandar bem quando dever mandar”[2]. Por isso, obedeças ao que obedece e será bom o que mandes.

Com o voto de obediência se obriga a submeter a própria vontade aos Superiores legítimos, que fazem as vezes de Deus quando mandam algo segundo as Constituições[3]. Compromete-se o religioso a obedecer em todo o referente à vida religiosa e apostólica ao Superior, imitando nisto a Jesus Cristo, feito obediente até a morte e morte de cruz (Fl 2,8). Desta maneira o religioso se faz dócil ao Espírito Santo e tem constantemente a alma pronta para tudo o que Deus disponha: Suplicamo-vos, irmãos, que reconheçais aqueles que arduamente trabalham entre vós para dirigir-vos no Senhor e vos admoestar. Tende para com eles singular amor, em vista do cargo que exercem. (1 Tes 5,12-13).

Ordens Menores

No Superior o religioso deve ver a quem faz as vezes de Jesus Cristo, como nos ensina: Sede submissos e obedecei aos que vos guiam (pois eles velam por vossas almas e delas devem dar conta). Assim, eles o farão com alegria, e não a gemer, que isto vos seria funesto. (Heb 13,17). Tal obediência é o elemento essencial da vida religiosa, já que o estado religioso é uma aprendizagem e exercício para alcançar a perfeição, e nesta aprendizagem se requer a submissão à direção de outro. Este voto oferece a Deus o bem mais excelente, que é a própria vontade, contém aos outros votos, que se realizam por obediência, e se refere propriamente aos atos mais relacionados com o fim da vida religiosa, posto que ninguém é religioso sem este voto, embora tenha feito os outros[4].

Alguns, desgraçadamente, movidos por espírito próprio, carnal ou mundano, não obedecem bem: “Não poucos vivem sob obediência mais por necessidade que por caridade; estes tais se sentem habitualmente afligidos e com facilidade se entregam à murmuração. E é evidente que não conseguirão a liberdade de espírito, a menos que se submetam de todo coração, por amor a Deus”[5]. E ao subtrair-se da obediência se subtraem da graça: “quem trata de subtrair-se ao jugo da obediência se subtrai pelo mesmo à ordem da graça; e o que deseja ter um bem individual mal consegue o coletivo. O que não se sujeita com gosto e espontaneamente à autoridade demonstra que tampouco sua carne lhe obedece perfeitamente, senão que muitas vezes se mostra recalcitrante e murmura. Aprende, pois, a submeter-te com presteza a seu superior, se queres sujeitar tua própria carne”[6]. Não devemos nos esquecer nunca que “a obediência é o aroma do sacrifício… Embora verdadeiramente os Superiores fossem por si mesmos ineptos para a altura de seu cargo; defeituosos – dito seja unicamente para fazer-me compreender – e até repugnantes; adquirir-se-ia um mérito maior, estar-se-ia mais seguros de obedecer a Deus ao obedecer-lhes. Porque os defeitos dos Superiores fazem imensamente mais meritória e grata a Deus a obediência: pois não se devem absolutamente ter em conta as qualidades humanas ao obedecer, nem se a ordem é racional, mas sim que a obediência é racional. Se pusermos como base de nossa submissão a racionalidade do ordenado se destrói a mesma obediência. Nós devemos nos aniquilar aos pés da Igreja e dos Superiores e obedecer por amor a Cristo e ser como trapos… que ninguém jamais nos supere em obediência filial, em obsequiosidade e amor ao Papa e aos Bispos, a quem o Espírito Santo colocou para governar a Igreja de Deus”[7]. O mesmo ensina São João da Cruz: “Jamais olhes ao prelado considerando-o menos que a Deus, seja o prelado que for, tenha-o em seu lugar. E adverte que aqui o demônio coloca muito a mão. Olhando assim ao prelado é grande o lucro e o aproveitamento, e sem isto é grande a perda e o dano. E assim, com grande vigilância, velai para que não os olheis em sua condição, nem em seu modo, nem em seu aspecto, nem suas outras maneiras de proceder; porque te fará tanto dano, que trocarás a obediência de divina para humana. Assim acabarás movendo-te ou não apenas pelos modos visíveis no prelado, e não pelo Deus invisível, a quem serves nele… se isto não fazes com força, de maneira tal que não se te de  por prelado mais a um que a outro, pelo que a teu particular sentimento toca , de nenhuma maneira poderás ser espiritual nem guardar bem seus votos”[8].

Se fôssemos religiosos verdadeiramente obedientes, se cumpriria o que diz São João Bosco: “Se cumprirem a obediência do modo indicado lhes posso assegurar, em nome do Senhor, que passareis na congregação uma vida tranqüila e feliz. Mas ao mesmo tempo devo lhes advertir que desde dia em que, deixando de lado a obediência obreis apenas  segundo vossos caprichos, começareis a sentir-vos pesarosos de vosso estado. Se nas várias congregações religiosas se acham descontentes e até há alguns para quem a vida  comunitária é de grande peso, observe-se com atenção, e se verá que isto provém da falta de obediência”[9]. Devemos gravar em nosso coração a máxima de São Francisco de Sales: “Tudo é seguro na obediência e tudo é suspeito fora dela”[10].

Esta obediência implica três graus:

  • Primeiro grau: acima de tudo, obediência de execução, que consiste em realizar a ordem mandada, mesmo sem submissão interna.
  • Segundo grau, obediência de vontade, ou seja, a submissão interior, que acomoda a vontade do inferior a do superior sem dificuldade, com amor e valentia.
  • Terceiro grau, obediência de juízo, pela qual se conforma o juízo interior com o do superior, rendendo também nossa inteligência, exceto o caso em que o contrário se manifeste com certeza evidente.

Esta obediência é justamente o contrário, tanto da obediência “crítica”, que obedece em meio da murmuração e da queixa, e do “espírito de oposição”, que forma grupos ou bandos de oposição a respeito do que ordene o superior, como do servilismo e a obediência farisaica, que com mistura de covardia e hipocrisia, mostra uma vontade vencida mas não submissa , e inclusive pretendendo levar o superior àquilo que o súdito busca.

Além da dependência e submissão que estamos obrigados pelo Batismo a respeito do Pontífice Romano, obrigamo-nos, em virtude do voto de obediência, a obedecer-lhe por um novo título, como a nosso Superior Supremo, conforme ao cânon 590, Inc. 2: “Cada um de seus membros está obrigado a obedecer ao Sumo Pontífice, como a seu Superior Supremo, também em virtude do vínculo sagrado da obediência”.
– Os membros estão sujeitos à potestade dos Bispos[11], aos quais têm que seguir com piedosa submissão e respeito no que se refere ao cuidado das almas, ao exercício público do culto divino e a outras obras de apostolado. No exercício do apostolado externo, os religiosos estão sujeitos também a seus Superiores próprios e devem permanecer fiéis à disciplina do Instituto; os Bispos não deixarão de urgir esta obrigação quando for o caso. Ao dirigir as obras de apostolado dos religiosos, os Bispos diocesanos e os Superiores religiosos devem proceder de comum acordo[12].

Será sempre excepcional o mandar “baixo obediência” e só terá valor quando o Superior legítimo o faça por escrito ou diante de duas testemunhas. Considera-se que os Superiores mandam em virtude do voto ao empregar fórmulas como: “em virtude da Santa obediência”, “baixo preceito formal” ou outras semelhantes, ou quando na maneira de ordenar ou outras circunstâncias se manifesta claramente que esse é seu desejo.


[1] Cf. Fl 2,8.
[2] Santo Tomás de Aquino, Super Ep. ad Hebraeos Lectura, V, 8, lectio II, nº 259, Ed. Marietti.
[3] Cf. CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO, c. 601
[4] Cf. Santo Tomás de Aquino, S. Th., II-II, 186, 8.
[5] Tomás de Kempis, Imitação de Cristo, L. I, cap. 9.
[6] Ibidem, L. III, cap. 13.
[7] São Luís Orione, Carta sobre a obediência aos religiosos da Pequena Obra da Divina Providência, Epifania de 1935, Cartas de Don Orione, Ed. Pío XII, Mar do Prata 1952.
[8] Cautelas 12, Segunda cautela contra o demônio.
[9] Regras ou constituições da Sociedade de São Francisco de Sales, VIII.
[10] Tratado do amor de Deus, VI, 13.
[11] Cf. CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO, c. 305, 1.
[12] Cf. ibidem, c. 678.